Composição equilibrada
Texto: Vitória Oliveira
No primeiro contato que teve com os proprietários da Casa Bento, o arquiteto Flávio Castro, à frente do FCstudio, percebeu que eles almejavam um projeto que lhes trouxesse as mesmas sensações que ele próprio procurou trazer para a sua residência (a Casa BOX). “Então, nada melhor do que convidá-los a presenciar isso ao vivo. Viemos aqui [para a casa do arquiteto] e foi onde tudo começou”, relata.
Discreta e convidativa
A fachada foi propositalmente idealizada para ser secreta e opaca, conferindo privacidade à família em relação ao jardim particular aos fundos e, ao mesmo tempo, uma barreira acústica, já que a casa está situada no bairro do Ibirapuera, em São Paulo (SP).
O projeto arquitetônico foi concebido como um anteparo da cidade para os interiores. Ele se apresenta para a fachada frontal como um volume simples e sem aberturas. Mas, ao entrar, é possível contemplar surpresas visuais.
Situados no volume superior, os dormitórios se abrem para o jardim aos fundos. Essa orientação proporcionou máxima privacidade Foto: André Mortatti Para quebrar a monotonia, o estúdio decidiu criar uma abertura zenital que potencializou a iluminação natural para dentro dos ambientes. De dia, é quase que imperceptível. À noite, o efeito é inverso, já que a luz ilumina toda a fachada – quem vê de fora, pressupõe uma extensa luminária linear.
Duas escadas de estéticas completamente distintas marcam a entrada principal. A escada que descende ao pavimento inferior foi feita em concreto, como parte do embasamento do terreno. Já a escada que dá acesso ao pavimento superior foi feita em aço e com estrutura autoportante aparente. Segundo o arquiteto, ela se desintegra no espaço, causando curiosidade quando vista de fora da morada.
A Casa Bento foi posicionada, relativamente, ao centro do terreno para privilegiar os visuais. Além disso, o programa foi organizado no subsolo e no primeiro andar, deixando o térreo inteiramente livre para integrar as áreas sociais com o generoso jardim.
No sobsolo estão as áreas de serviços, depósito e equipamentos. No térreo, o acesso principal, cozinha, salas de estar e jantar, área de lazer com jardim e spa, lareira, lavabo e garagem.
O desejo dos moradores era deixar o térreo livre para o living, a cozinha e o jardim. O essencial é saber ouvir e devolver em arquitetura o que você ouviu Flávio Castro
E no pavimento superior, o bloco íntimo que é composto por três suítes (uma principal e duas das filhas do casal) e um home teather. A suíte master está orientada à fachada posterior e debruçada em direção ao coração do projeto: o jardim e o spa. Assim, o escritório conseguiu manter a privacidade, o conforto termoacústico e uma belíssima vista para o paisagismo.
"O desejo dos moradores era deixar o térreo livre para o living, a cozinha e o jardim. O essencial é saber ouvir e devolver em arquitetura o que você ouviu", conta Castro.
A beleza está nos detalhes
Algumas peças que compõem os espaços foram desenhadas pelo próprio escritório. Eles pensaram não apenas em estratégias, materiais, cores ou texturas, mas no fato de que o design de interiores faz toda a diferença em uma morada.
O mobiliário cria um diálogo harmonioso entre a arquitetura e o design brasileiro das peças. A mesa ‘Brasília’ – que faz referência à capital do Brasil – tem um conceito intrínseco. Já a mesa de jantar ‘Ensamble’ é uma peça mais orgânica que rompe a ortogonalidade dos interiores. E, por fim, o banco ‘Move’ é uma peça interessante, que fica na área externa compondo o espaço da lareira e todo o restante da arquitetura.
Os materiais são sinceros e sem adornos. Aço, madeira e concreto são evidenciados naturalmente, e o desgaste natural de cada um deles comprova o conceito adotado pelo FCstudio.
Todos os ambientes da morada recebem ventilação e iluminação naturais abundantes. Contribuem para isso a abertura zenital das fachadas e os brises móveis que filtram a entrada da luz solar, conferindo também privacidade aos dormitórios.
Projeto abraçado pelo verde
O paisagismo, também assinado pelo estúdio, tem um fator muito importante na composição arquitetônica. É ele quem abraça todo o projeto e serve de pano de fundo para, absolutamente, todas as áreas que estão no pavimento térreo.
“Para esse espaço, que é considerado por nós especial, exploramos espécies nativas, brasileiras e super tropicais de acordo com a intensidade de luz em cada área do terreno”, explica o arquiteto.
A natureza está presente por todos os lados! Ao redor da casa, no térreo, no segundo pavimento e na entrada, onde há um caminho com uma árvore e jardim vertical que conduz os moradores, pela lateral, até a área de lazer aos fundos. A vegetação traz movimento para uma arquitetura retilínea.
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