Comunicação e arquitetura: no ar!
Texto: Naíza Ximenes
Como diriam Igão e Mítico: Fala, galera! Está começando mais uma matéria incrível aqui na Galeria da Arquitetura! Hoje vamos falar sobre o novo Estúdio Podpah, projetado pelas arquitetas Lorenzza Lamoglie, da Labra Arquitetura, e Camila Sue.
Palco de um dos podcasts mais populares do YouTube, o estúdio fica em São Paulo em um prédio com três andares que, ao todo, somam 560 metros quadrados. O programa já recebeu grandes nomes da política e da cultura brasileira, como o presidente Lula e o rapper Mano Brown, que foram os entrevistados das transmissões com recorde de audiência no canal.
Comandado pela dupla Igor Cavalari (o Igão) e Thiago Marques (o Mítico) desde 2020, o Podpah é apresentado ao vivo, seguindo a proposta de uma conversa de bar. Sem pauta definida e sem hora para acabar, os bate-papos descontraídos são os responsáveis por uma legião de mais de cinco milhões de fãs entre inscritos no canal e seguidores nas redes sociais.
Inicialmente, as entrevistas eram feitas em um outro estúdio, menor e mais simples, também projetado pela arquiteta Camila Sue. Com o crescimento do podcast, da repercussão e do número de assinaturas nas paredes do estúdio (deixadas por cada entrevistado que passa pela casa), a equipe embarcou na mudança para um estúdio maior.
E, já que o espaço ia aumentar, a quantidade de programas também cresceu, dando origem ao projeto dos novos Estúdios PodPah.
Arquitetura + Podpah: ação!
“O antigo estúdio de gravação inteiro é do tamanho de uma sala no novo espaço”, explica Victor Assis, o terceiro integrante do trio de CEOs da empresa, em entrevista à Forbes.
O prédio de três andares foi construído com um design liso e sem acabamento, com a proposta inicial de abrigar 14 salas comerciais. Mas as arquitetas unificaram toda a estrutura e criaram um hub de conteúdo com a mesma identidade visual do antigo estúdio: com muito amarelo, faixas de sinalização e design com estilo industrial.
Térreo — as assinaturas
No térreo, de 140 metros quadrados, o primeiro espaço logo após a entrada é a recepção, onde fica as paredes com as assinaturas dos convidados — marca registrada do podcast. Esse foi, inclusive, um dos desafios na mudança: levar as assinaturas de um endereço para o outro. Para isso, as arquitetas fotografaram, imprimiram, adesivaram e replicaram toda a parede antiga no espaço novo, além de deixar uma área para as novas.
Ao lado da recepção, está uma sala de reunião de dimensões generosas, com uma grande mesa de madeira no centro e lugares para oito pessoas. Os tijolos na parede são os mesmos da recepção, e eles se estendem por toda a área comum do prédio. Eles são um dos poucos revestimentos que já existiam no local antes da reforma e foram mantidos no projeto por conversar com a linguagem arquitetônica.
O acesso ao primeiro andar, onde fica o estúdio principal, pode ser feito tanto pelas escadas, que ganhou revestimentos pretos e cinzas e corrimão em amarelo, quanto pelo elevador.
Na parede, o revestimento de tijolos foi replicado em todo o prédio
Primeiro andar — o podcast
“Em contraposição aos outros andares, o primeiro estava completamente cru. Não tinha forro nem piso elevado, e foi daí que vieram algumas soluções”, conta Camila Sue. “Como o pé-direito previsto era muito baixo (porque as salas eram muito compartimentadas) e só tinha a infraestrutura de ar-condicionado, isso virou um partido para nós”, acrescenta.
Todo o forro metálico vazado, que marca a circulação e esconde a maior parte da infraestrutura de ar-condicionado, virou um elemento arquitetônico. “Nós também optamos por deixar a laje aparente e fazer uma iluminação sobreposta, já que ela conversa com o estilo pretendido”, explica a arquiteta.
Com 210 metros quadrados, o primeiro andar é marcado pelo estúdio principal (onde são feitas as gravações do podcast), seguido por lounge, estações de trabalho e sala da diretoria. As paredes que contornam o estúdio são de telha galvanizada, decoradas com um grande painel de LED com o logo do Podpah.
A mesa e as cortinas permaneceram as mesmas do estúdio anterior. A estante foi repaginada
O piso, diferente do porcelanato cinza do térreo, passa a ser de madeira em todo o pavimento. No estúdio, a mesa de madeira e as cortinas pretas permanecem a mesma do prédio anterior, já que os apresentadores foram enfáticos quanto a manter elementos importantes do antigo estúdio. A estante preta, porém, foi ampliada e redesenhada para levar uma novidade ao espectador.
Saindo do estúdio, o lounge é o local mais utilizado pela equipe. É onde ficam sofás, mesa de pingue-pongue que se transforma em mesa de sinuca e videogame. O espaço serve tanto para descontração quanto para minirreuniões e uma oportunidade de trabalho mais confortável.
Há uma pequena copa ao lado do elevador, e, seguindo pelo corredor, ficam as 12 estações de trabalho. Nesse espaço, a palavra-chave é integração, já que não há divisórias entre as baias e todo o entorno é constituído por vidro —pensando tanto na entrada de luz natural quanto na conexão entre ambientes.
No outro extremo, por fim, está a sala da diretoria, onde ficam Vitor, Igão e Mítico. Há um sofá em uma ponta da sala e uma mesa menor na outra. Toda a parede da sala é de concreto, e a parede compartilhada com as estações de trabalho é do mesmo tijolo do térreo. A diferença é que, neste andar, eles foram pintados de branco e ganharam um grafite do artista Negast.
Segundo andar — os novos programas
No segundo (e último) pavimento, o espaço central é marcado por um bar (patrocinado pelas marcas Chivas, de whisky, e Brahma, de cerveja), que é utilizado tanto como lounge quanto como espaço para gravações. O piso permanece de madeira e todo o mobiliário é equilibrado entre marrom e metal. Na parede do fundo, há uma estante repleta de garrafas, chopeira e taças.
Do lado esquerdo do bar, fica o estúdio do novo programa, comandado por Diogo Defante: o Rango Brabo. A proposta do projeto era criar uma cozinha aconchegante e funcional do ponto de vista técnico para as gravações. “Optamos por ambientar uma cozinha completa, com materiais de uso residencial, para conferir veracidade e funcionalidade”, explica Lorenzza.
O tom da madeira utilizada nesse espaço é mais claro e os móveis ganharam revestimentos em vermelho e cinza. Atrás da torneira, uma janela falsa com iluminação controlada contribui para o aspecto verídico de uma cozinha, sem prejudicar a iluminação para gravações em qualquer período do dia.
Do lado direito do bar, fica mais um estúdio, de dimensões generosas e conectado ao Rango Brabo por um depósito. O espaço tem uma proposta flexível, para as mais variadas gravações, com cortinas pretas em todas as paredes e projeto de iluminação e acústica. Atualmente, o espaço tem sido utilizado para a montagem do Quebrada F.C., um outro programa da equipe, voltado a esportes.
O bar é patrocinado pelas marcadas Chivas, de whisky, e Brahma, de cerveja
Todo o prédio ganhou projetos personalizados para otimizar a iluminação e acústica em todos os ambientes possíveis, conferindo multiplicidade e adaptação à usabilidade do projeto.
“A gente contou com ajuda de dois técnicos que fazem a filmagem e edição dos programas, o Alex e o Everton. Nós fomos atrás de especificações de bombeiro, entendemos o que podíamos e não podíamos fazer aqui dentro (afinal, estamos em um prédio fechado) e, depois que o estúdio foi inaugurado, ainda fizemos adaptações para afinar essa reverberação do som”, explica Lorenzza.
“Tivemos mais liberdade nesse projeto de fazer porta acústica, forrar o teto inteiro de espuma acústica e usar materiais que fossem favoráveis a esse desempenho”, complementa Sue. “Nós desenhamos uma solução aérea para o teto que acomodasse toda a elétrica das câmeras, luzes e tirasse todos os cabos do chão, considerando que um estúdio tem muita fiação. Tudo isso passou para o teto e foi conectado à mesa de edição, em uma solução desenvolvida em conjunto com a equipe deles”, ela completa.
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