Legado para o Rio
Texto: Fabio de Paula
Criar equipamentos que pudessem ser adaptados para uso em legado após as Olimpíadas, tanto pela população quanto por atletas, foi a premissa que norteou o projeto de arquitetura e urbanismo do Parque Olímpico de Deodoro. Desenvolvido pelos arquitetos do escritório paulistano Vigliecca & Associados e executado entre 2013 e 2016, o plano contempla o planejamento do território ocupado pelo complexo esportivo, bem como o desenho das edificações que o compõem.
"Gerenciar um projeto a partir de comitês locais, comitê internacional, o próprio Exército, a prefeitura, o governo do Estado, e criar um acordo entre empresas, grupos e consultores nacionais e internacionais foi o maior desafio", conta Héctor Vigliecca, sócio-fundador do escritório.
A consolidação desse legado começou pela avaliação dos equipamentos preexistentes e executados para os Jogos Pan-Americanos de 2007, que ocorreu no local. "Havia algumas construções como a área do hipismo, do tiro e uma piscina que será usada no pentatlo", explica o arquiteto Ronald Werner, coordenador técnico do projeto.
Além da adequação para os padrões olímpicos, o partido adotado por Héctor e seus colaboradores incluiu novas benfeitorias, definindo três núcleos principais: um setor dedicado aos esportes radicais, o segundo abrigando arenas e quadras esportivas, e o terceiro reunindo atividades ligadas ao hipismo.
A Arena da Juventude destaca-se na paisagem do Parque Olímpico de DeodoroFoto: Leonardo Finotti
Setorização
Com uma área de 2,6 milhões de metros quadrados e palco para 11 modalidades olímpicas e quatro paraolímpicas, o Parque Olímpico de Deodoro teve seu projeto selecionado a partir de uma concorrência pública internacional realizada pelo governo fluminense no ano de 2013. O escritório de Vigliecca encabeça o consórcio vencedor e, desde então, acompanha a execução dessa obra que, no auge de seu uso, terá uma capacidade total de público próxima a 71 mil pessoas. Trata-se do maior complexo a abrigar as atividades das Olimpíadas.
Não precisamos esperar que acabem as Olimpíadas para saber se os equipamentos vão funcionar. Eles já estão funcionando Héctor Vigliecca
A avenida Brasil, uma das mais importantes vias de tráfego do Rio de Janeiro, corta o imenso lote do complexo esportivo e determina a distribuição de seus equipamentos. O núcleo mais ao norte da gleba, chamado de Zona A, abriga o Parque Radical, que inclui o Estádio Olímpico de Canoagem Slalom, o Centro Olímpico de BMX e o Parque Olímpico de Mountain Bike. "O Parque Radical será o segundo maior parque do Rio de Janeiro. Uma área gigantesca, que inclusive já foi usada no verão. Ele será o maior legado direto", salienta Werner.
A Zona B, que ocupa o entorno da avenida, é composta pelas principais edificações do conjunto, como a Arena da Juventude, o Centro Olímpico de Tiro, o Centro Aquático de Deodoro, o Estádio de Deodoro e o Centro Olímpico de Hóquei sobre Grama. Já a Zona C, ao sul, concentra o Centro Olímpico de Hipismo, que reúne o Circuito de Cross Country, a Arena Central, a Vila dos Tratadores, Clínica Veterinária, Ferradoria, Estábulos, uma Pista de Treinamento, um Coliseu, um Girador e um Abrigo de Resíduos Orgânicos. "Não precisamos esperar que acabem as Olimpíadas para saber se os equipamentos vão funcionar. Eles já estão funcionando", revela Vigliecca.
A arquibancada do Centro Olímpico de Hóquei Sobre Grama estrutura-se em treliças de pilotis metálicosFoto: Leonardo Finotti
Edifícios em destaque
Na paisagem que define esse imenso conjunto de obras e edificações do Parque Olímpico de Deodoro, destaca-se a Arena da Juventude, onde serão realizadas as partidas de basquete feminino, de esgrima do pentatlo moderno e de esgrima em cadeiras de rodas. Com um vão livre de 66,5 metros de comprimento e área construída total de 14,3 mil metros quadrados, o edifício é dotado de lanternins com exaustão de ar na cobertura, venezianas móveis e telas nas fachadas, e grandes áreas sombreadas em seu entorno, o que lhe garante máxima ventilação e iluminação naturais, reduzindo os custos de manutenção.
Quando acabarem as Olimpíadas e abrirem as portas do parque para a população, será uma coisa inimaginável Héctor Vigliecca
"O desenho da arena é fruto da ideia de como seria a ventilação porque o Exército não queria ar-condicionado para o legado. Por isso, durante os Jogos, usam-se membranas temporárias por dentro que fecham o edifício", revela Werner.
Além da Arena da Juventude, ganham vulto no conjunto arquitetônico o Centro Olímpico de Hóquei Sobre Grama, cuja arquibancada estruturada sobre treliças de pilotis metálicos tem capacidade para 12 mil pessoas, e o Estádio Olímpico de Canoagem Slalom, onde o projeto, em vez de se opor à acidentada topografia do terreno, tira proveito dela, definindo-se como o primeiro curso artificial de águas bravas do Brasil e um dos melhores e mais modernos do mundo. “Hoje não temos campeões de canoagem, mas nós teremos, disso eu tenho certeza. Quando acabarem as Olimpíadas e abrirem as portas para a população, será uma coisa inimaginável", conclui Héctor.