Arquitetura preservada
Texto: Nuri Farias
O antigo prédio onde funcionavam as oficinas e a redação do Jornal do Brasil, desenhado pelo arquiteto Henrique Mindlin, hoje abriga o INTO – Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, um projeto arquitetônico de autoria do escritório carioca RAF Arquitetura.
Por admiração à arquitetura modernista de Mindlin, os arquitetos Rodrigo Sambaquy, Anibal Sabrosa e Flavio Kelner decidiram manter a volumetria da construção, situada no Rio de Janeiro. “Uma das premissas foi preservar ao máximo a arquitetura do prédio moderno, fazendo-se o restauro do concreto das fachadas e dos interiores do átrio central, adornado com painel de Athos Bulcão”, contam.
Divisão estrutural
O átrio central interliga os dois eixos viários do entorno, além de duas torres de circulação vertical Foto: Celso Brando
Como o prédio não comportaria todas as acomodações do INTO, a solução encontrada pelo presidente do hospital, Sérgio Côrtes, foi unir esse terreno ao vizinho dos fundos, pertencente à Companhia Docas do Rio de Janeiro. A área acrescentada ficou reservada à garagem e ao bloco de pacientes externos.
“Na face voltada para a Baía de Guanabara, inserimos as duas torres de circulação vertical que passaram a intermediar a relação do edifício original com o bloco de pacientes externos. Houve o remanejamento do acesso principal para a Avenida Rio de Janeiro”, expõem os arquitetos.
A entrada social do INTO, para pacientes e médicos, é feita pelo térreo da edificação mais próxima ao elevador, pois os andares superiores são ocupados pelo estacionamento. Já o acesso privativo, pelo saguão original do prédio, se dá pela Avenida Brasil.
Os arquitetos explicam que, com a inserção de volumes mais baixos que o do prédio existente, não só foram equacionados itens do programa, como também se preservou, a partir dos andares mais altos, a visão da Baía da Guanabara.
“A inserção do bloco da garagem também funciona como barreira acústica, que dissipa os ruídos do trânsito da via elevada, mais notados durante o dia, e impede que se propague para o interior do hospital o som metálico quase ininterrupto das operações portuárias. Entre estes blocos foram criados duas praças de acesso e acolhimento ao público”, completam.
Materiais predominantes
O revestimento metálico vermelho que cobre os pavimentos superiores das garagens e o invólucro de aço corten dos consultórios remetem à identidade do INTO.
O dimensionamento estrutural concebido por Mindlin no prédio original deu liberdade de projeto à RAF Arquitetura. “Os grandes vãos tornaram relativamente simples a tarefa de setorizar as lajes livres, foram criados inúmeros shafts e aberturas de lajes, visando a praticidade e eficiência das instalações”, relatam os profissionais.
Revestidas com vidro espelhado, as fachadas respondem a critérios de segurança e acessibilidade, levando-se em conta que o volume de concreto projetado por Henrique Mindlin para abrigar a sede do Jornal do Brasil foi quase todo ocupado pela área de hotelaria do hospital.
O interior do INTO conta com 23 centros de tratamento específico, 21 salas cirúrgicas, outras três dedicadas ao hospital-dia e duas preparadas para o acompanhamento remoto das intervenções médicas. “Há, ao todo, 64 consultórios e 400 leitos, distribuídos segundo o princípio de corredor duplamente carregado, ou seja, circulações paralelas tangenciando os núcleos centrais de enfermagem”, concluem os arquitetos.
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