A Saint-Gobain – grupo que atua em vários países na área industrial e logística – promoveu um concurso para a construção de seu primeiro Centro de Pesquisa e Desenvolvimento no Hemisfério Sul. O projeto vencedor foi assinado pelo escritório Dávila Arquitetura, que trouxe à Capivari (SP) um complexo com raízes modernistas e exepcionalmente sustentável utilizando diversos produtos desenvolvidos pelo cliente. A escolha de materiais e soluções rendeu, inclusive, a certificação LEED Gold à edificação.
O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Saint-Gobain possui terreno de aproximadamente 50 mil m² e encontra-se anexo à fábrica da Brasilit (uma das empresas do grupo), mas com a qual não se conecta fisicamente, configurando-se como uma construção independente.
O conjunto se divide basicamente em três zonas. A social, que compreende recepção, área de acolhimento e área de exposição dedicada a mostras permanentes e temporárias; a administrativa onde ficam os escritórios da empresa; e, por último, a de pesquisa destinada aos laboratórios.
Segundo o arquiteto Afonso Walace de Oliveira, esses setores têm características específicas (identidade e ambientação próprias). Porém, se relacionam harmonicamente uns com os outros numa sequência funcional, que vai do setor mais público (social) ao mais reservado (pesquisa) passando pelo administrativo.
O edifício principal é um gigante feito em concreto aparente. Suspenso por pilotis, ele segue permeado pelo espelho d’água e cercado por um parque com lago e muita vegetação. De acordo com Afonso, a ideia era criar uma ‘cama’ para que este volume se destacasse sobre o verde e a água, além de viabilizar um microclima de controle térmico em todo o projeto. “Os fluxos trabalham a transição do visitante a partir do espaço natural, adentrando a construção em uma sucessão de ambientes com sensações e iluminações diferentes”, afirma.
O contraste entre natureza e materiais originou uma arquitetura escultural que valoriza muito o percurso Afonso Walace de OliveiraEnquanto as rampas promovem a circulação horizontal entre os andares, uma torre de vidro possibilita a circulação vertical, além de marcar volumetricamente o eixo central do complexo. “O contraste entre natureza e materiais originou uma arquitetura escultural que valoriza muito o percurso”, destaca Afonso.
Os dois pavimentos do prédio principal são ocupados pelo setor social, que corresponde ao pátio e ao showroom, respectivamente distribuídos nos primeiro e segundo pisos. Neste último andar, o que se vê adiante é uma ponte – com brises e esquadrias de alumínio e vidro –, na qual funcionam as áreas de staff e de diretoria da Saint-Gobain.
O volume administrativo apoia-se transversalmente sobre o bloco térreo que acomoda a área de pesquisa. Ele foi revestido de placas cimentícias – um material de uso versátil que, futuramente, facilitará a expansão do programa.
“O edifício foi pensado como uma solução modular e expansível. Isso fica claro na área de pesquisa, já que os laboratórios poderão se multiplicar mantendo a mesma articulação espacial da arquitetura atual”, explica Afonso.
O arquiteto conta que quase todos os materiais utilizados no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Saint-Gobain foram desenvolvidos pelo próprio grupo. Isso engloba o sistema de aproveitamento de água de chuva (coletada na cobertura), os vidros de alta performance, a argamassa, os aditivos, os painéis de vedação acústicos, forros especiais etc. “Assim, o projeto tornou-se um grande espaço de exposição dos produtos e sistemas da empresa”, conclui Afonso.
Uma das vedetes da Saint Gobain que foi incorporado ao complexo é um vidro especial, capaz de regular seletivamente a incidência solar, conforme o gosto do usuário. O controle de transparência ou sombreamento é proporcionado por uma película interna ao vidro, que responde a estímulos elétricos. Isso altera sua polarização, controlando a quantidade de luz que atravessa o material.
Os brises que resguardam a ponte dos escritórios também foram confeccionados com esse tipo de vidro. “Utilizá-lo dessa forma pode ser surpreendente para muitos, mas a solução, que inclui um ‘colchão de ar’ entre a fachada e as lâminas, reduz efetivamente a temperatura interna da edificação”, esclarece o arquiteto.
Por outro lado, os brises em vidro não obstruem nem reticulam a visão da paisagem, enquanto mantêm um efeito de transparência, além de serem trabalhados volumetricamente na fachada, colaborando em sua composição e movimentação.
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