Texto: Naíza Ximenes
O que é um santuário? Segundo a definição do dicionário, depende do contexto. No catolicismo, é uma capela onde são guardadas e veneradas relíquias de vários santos. Na biologia, um local preservado e intocado pela presença humana: santuário de espécies preservadas. No ser humano, o lugar mais íntimo de alguém; âmago.
Apesar das diferenças, todos esses usos da palavra têm por base o sentido de proteção, preservação e bem-estar. Há quem transforme o trabalho em santuário, há quem visite-os sem qualquer conexão... e há quem transforme seu próprio lar em um local como este.
Este foi o desafio do arquiteto David Guerra ao conhecer o casal proprietário de um terreno de 30 mil metros quadrados em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte (MG): construir uma casa que também fosse um santuário.
Após um meticuloso processo interdisciplinar de licenciamento junto aos órgãos reguladores ambientais, o programa ganhou uma capela e complexos de preservação de fauna e flora, buscando preservar ao máximo as árvores centenárias que preenchem o terreno.
“Era um desejo do proprietário estabelecer um santuário natural pessoal, para o casal e sua família. Um local onde espécies ameaçadas da fauna e da flora pudessem encontrar refúgio, e os moradores pudessem participar de maneira ativa no contato com a natureza e na preservação ambiental”, explica Guerra. E assim nasceu o projeto da Casa das Orquídeas.
A propriedade levou cinco anos para ficar pronta e um dos primeiros requisitos foi a construção de uma casa que abrigasse toda a família, formada pelo casal, seus três filhos, sete netos, irmãos, primos e demais familiares. Eles contam que costumam reunir cerca de 50 pessoas nos encontros e comemorações — número que justifica a dimensão da obra.
O casal também reiterou que, ainda que fosse necessária a construção de uma grande quantidade de aposentos, não era da vontade deles ter uma série de quartos padronizados, sem personalidade — o que fez com que grande parte dos familiares participassem de forma ativa no design dos espaços.
Assim, alinhando área íntima, de lazer e santuários, a equipe de arquitetos optou por uma construção em U no pavimento principal. A casa fica na região mais próxima ao acesso do complexo. Logo em seguida, vem a capela.
Um pouco mais ao centro do terreno ficam os lagos — com bagres, cascudos, e surubins — e oito viveiros, que preservam 12 espécies de animais — que incluem araras, papagaios e tucanos, macacos-prego, jabutis-piranga e tigres d’água.
Há, ainda, dois criatórios, para criação e reprodução de um pássaro chamado curió, além dos dois orquidários que dão nome à residência. Eles possuem área total de 900 metros quadrados e guardam 50 mil mudas de 3500 espécies de orquídeas, representando o maior orquidário pessoal no estado de Minas Gerais.
Orquidário com 50 mil mudas de 3500 espécies de orquídeas
O projeto também inclui uma ampla horta, três quadras esportivas e um anexo de lazer. “O proprietário empreende algumas horas por dia para manter, cuidar e fazer crescer esta grande obra. Somente no orquidário, gasta duas horas todos os dias”, explica Guerra.
Na entrada da casa, a estrutura de pedra em formato de tijolinho que cobre a área é um dos primeiros elementos a serem notados. Para quem chega de carro, há duas opções: estacionar em uma das duas vagas cobertas que ficam ao lado da entrada e no mesmo nível, ou em um pátio, no subsolo, com espaço para 20 carros.
No espaço anterior às portas, encontram-se um painel de pedra à direita e uma fonte de água à esquerda, envolta por vidro. No interior da casa, o primeiro cômodo acessado é a sala de estar.
De dimensões generosas e pé-direito duplo, a sala ganhou design contemporâneo. Ela está integrada aos outros ambientes e possui paleta de cores que equilibra tons neutros e terrosos. As portas, o teto e o armário sob a televisão são de madeira, em um tom mais próximo ao mel, que proporciona maior sensação de aconchego. A integração é tanta que a sala de estar e a área externa de lazer se confundem quando as portas de vidro de correr estão abertas.
Ainda na sala de estar, o morador pode usufruir de mais de um espaço. À direita da entrada, está a sala de TV, e, na porta à direita da televisão, fica o cinema, com dez poltronas e teto de ripado de madeira. À esquerda da entrada, fica a sala de jantar, que ganhou mesa de mármore branco, vista para a fonte de água através da porta de vidro e passagem para a cozinha. De todos os pontos, é possível ver a mata centenária no horizonte e a área de lazer.
A cozinha fica no extremo da casa e pode ser total ou parcialmente integrada aos outros ambientes. Isso porque ela ganhou portas de madeira de correr tanto na lateral, dividindo o espaço com a sala de jantar, quanto na parede frontal, dividindo o espaço com a área externa.
O espaço de lazer à frente da sala e cozinha ganhou mobiliário com paleta de cores neutra e aspecto mais artesanal, a exemplo da palha trançada. Esse ambiente se estende pela lateral do jardim, em uma separação que evidencia o que é área de lazer e o que é a área de convivência sob o telhado. A segunda área também ganhou portas de vidro de correr em ambas as laterais, com vista para a piscina, de um lado, e para a brinquedoteca, de outro.
Depois do jardim, um deck de madeira faz a transição do lazer para a piscina, onde ficam quatro espreguiçadeiras. Ainda mais à frente, ficam dois espaços de convivência, cada um com quatro poltronas. Um fica ao ar livre e o outro, coberto por um pergolado e brises de madeira.
Na lateral da piscina foram construídas várias salas, uma ao lado da outra, que formam um spa completo composto por sala de massagem, ducha, sauna seca e sauna molhada — esta última com uma parede de vidro que a separa da piscina.
Do outro lado do pátio, a área privativa ficou com quase o dobro do tamanho que havia sido estipulado no projeto original. São seis suítes no total, conectadas pelas duas laterais. A lateral mais próxima do pátio é formada por um corredor com paredes de vidro, com vista para a piscina, e a lateral oposta é formada por uma varanda extensa, com mesas e poltronas à frente da maioria dos quartos. As paredes também são de vidro.
A garagem ficou embaixo do pavimento privativo, abrigando dez carros e área de serviços.
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