Marcada pelo dinamismo e intensa atividade cultural, a cidade de São Paulo é palco de mais uma importante obra de revitalização do espaço público: o Lote, assinado pelo escritório de arquitetura Superlimão.
O projeto é um espaço multicultural temporário que emerge das ruínas de um antigo estacionamento. O local conecta o Beco do Nego (uma continuação do Beco do Batman, conhecido pelos inúmeros grafites pintados nos muros) a uma quadra de basquete e à rua Padre João Gonçalves, na Vila Madalena. E, se o local é conhecido pela cultura e pelos grafites, por que não os incluir no projeto?
Os arquitetos transformaram os 650 metros quadrados de terreno em uma estrutura que, logo de cara, remete à topografia do entorno — e que foi posteriormente apelidada de ‘montanha urbana’, já que o bairro da Vila Madalena é marcado por grandes ladeiras.
Cinco contêineres formam a ‘montanha’, cujas paredes são, também, uma tela ao ar livre para a expressão do grafite.
A escolha pelos contêineres é justificada por vários aspectos. Primeiro, pela expertise do Superlimão na adaptação desse material, que foi utilizado como um elemento estrutural. Segundo porque, além da sustentabilidade e agilidade na montagem, também é de fácil manuseio — um critério importante para uma obra temporária, já que o escritório não comprou o terreno.
“Nós sabíamos que deveria ser algo com começo, meio e fim. Tinha que ser rápido, não podia custar muito e nos incomodava demais construir algo para, depois, destruir e gerar lixo — então também deveria ser reutilizável. Por isso a escolha pela estrutura modular em contêiner”, explica Lula Gouvêa, sócio e arquiteto do escritório.
Com a estrutura definida, o próximo passo definir era os usos. Pensando nisso, o lado de dentro da montanha foi separado em três andares: lanchonete, bar e banheiros no térreo; loja da Surreal e estúdio da rádio online Na Manteiga no primeiro andar; e mirante no segundo andar. De fora da montanha, por sua vez, escadas e rampas levam diretamente ao mirante e resgatam um ponto de vista das alturas.
O pavimento intermediário, onde fica a rádio, é totalmente conectado aos ambientes externos — em especial, por conta das janelas que, de um lado se abrem para a pista, e do outro, para o Beco. Na pista, duas manifestações arquitetônicas refletem a identidade do local, ambas criadas pelo Superlimão: o mobiliário e a geodésica, que foi instalada bem no pátio central.
No pátio central, há uma criação inédita do escritório: a geodésica. Com desempenho térmico otimizado e circulação de ar aperfeiçoada, a estrutura abriga um palco para DJs.
Uma geodésica é, por definição, uma estrutura circular. Através desse formato, ela proporciona melhor climatização e circulação de ar. No Lote, ela foi adaptada e idealizada para atuar como um palco, em que os DJs possam se apresentar projetando o som para a pista e isolando a projeção para a rua.
Há algumas geodésicas prontas no mercado, mas, por não atenderem a acústica, térmica e estética desejadas pelo escritório, os arquitetos optaram por criar a sua própria. Foi nesse momento que eles decidiram aplicar um jogo de formas, o triângulo e o círculo, em um único conceito.
Com o espaço montado, a inauguração foi marcada por grandes nomes do grafite preenchendo as telas do Lote. Entre eles, o espanhol Demsky, em sua primeira obra no Brasil; o brasileiro Flip; e a espanhola Mujer Gitana.
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