Texto: Naíza Ximenes
Ocupando um terreno de mais de três mil metros quadrados na Avenida Rebouças — uma das vias mais importantes da cidade de São Paulo —, o escritório de arquitetura aflalo/gasperini projetou o White 2880. Com uma vista privilegiada do Jardim Europa, o complexo de uso misto foi descrito pelos arquitetos como uma oportunidade única devido à sua localização estratégica, em uma área de expansão urbana.
Combinando espaços comerciais e residenciais de forma integrada, a proposta tinha como desafio conciliar lajes corporativas e apartamentos mantendo a independência funcional e a privacidade.
Em entrevista à Galeria da Arquitetura, o arquiteto Luiz Felipe Aflalo Herman conta que o partido do projeto foi muito feliz por dois motivos principais: o destaque em relação ao entorno e o deslocamento dos núcleos, apesar de conectados. “Nós praticamente projetamos dois prédios sobrepostos, utilizando retas, curvas e planos inclinados para isso... um desenho mais Burle Max, apesar da característica minimalista do escritório”, ele conta.
“Com esse caráter fluido, de planos angulados em todas as direções e como se tivesse uma aerodinâmica, nós ainda conseguimos explorar dois núcleos: um de acesso vertical e outro de circulação dentro do prédio, ambos acoplados. O do escritório para em determinado pavimento, e o do residencial segue até o topo do edifício”, complementa Luiz Felipe.
O terreno, plano e localizado em uma zona de adensamento, é outro fator importante do projeto, já que, além de facilitar o desenvolvimento da arquitetura, também garantiu uma integração eficiente com a avenida.
Com duas propostas diferentes, definiu-se dois programas de necessidades. Do lado residencial, o pedido era por uma área de lazer robusta — incluindo academia, salão de festas, sauna e uma piscina coberta com raia de 25 metros — e apartamentos projetados de maneira cosmopolita, com áreas de 30 a 90 metros quadrados.
Já do lado comercial, o pedido era por amplas lajes corporativas, que contemplam uma área de 1.200 metros quadrados sem um pilar sequer, passíveis de serem divididas em até quatro salas, cada uma com 250 metros.
O resultado foi um grande térreo dividido, com entradas separadas para cada uso do empreendimento, e quatro lojas que compõem a fachada ativa — uma obrigatoriedade relativa a complexos de uso misto, determinada no Plano Diretor de São Paulo.
A integração urbana — onde o paisagismo, calçadas e lojas harmonizam-se de forma convidativa para pedestres — foi uma das prioridades do projeto, influenciando diretamente a estrutura do empreendimento.
O acesso ao residencial foi estrategicamente posicionado, e o projeto verticaliza-se a partir do sétimo pavimento, onde se inicia a área de lazer residencial. Os apartamentos foram projetados com terraços em todo o perímetro, proporcionando vistas amplas e uma sensação de integração com o entorno.
O estilo arquitetônico adotado é marcado por elementos inclinados e curvos, conferindo ao projeto uma identidade única. A materialidade foi mantida minimalista, com predominância de tons brancos para destacar o desenho arrojado do edifício. A torre residencial escalona-se para criar esbeltez e responder a requisitos de recuo da legislação.
A arquiteta Grazzieli Gomes Rocha explica os benefícios da disposição do edifício. “Quando você coloca essa área de lazer do residencial sobre as lajes coorporativas, cria-se uma área de podium. Esse lazer residencial ganhou uma vista maravilhosa, além de estipular um nível democrático em que todos os apartamentos conseguem ter uma vista incrível da cidade”, ela explica.
A fachada extensa foi explorada para proporcionar vistas privilegiadas a todos os escritórios e apartamentos. A presença de terraços permitiu a adoção de caixilhos piso-teto, proporcionando iluminação natural e ventilação qualitativa aos apartamentos.
Além disso, o projeto foi destacado por sua integração visual com o entorno, apresentando calçadas largas, paisagismo cuidadoso e uma entrada permeável, valorizando o pedestre e contribuindo para a vitalidade urbana.
“O projeto já nasceu com a intenção de ter uma arquitetura mais provocativa, inusitada. Isso significa que nós já estávamos em busca de uma identidade diferenciada”, explica Grazzieli. “Nós trabalhamos muito o design, explorando elementos inclinados e curvos, com uma composição volumétrica adaptada aos usos. A gente tem um embasamento maior, com uma laje de 1.300 metros quadrados, depois reduz para uma laje menor, de cerca de 300 metros quadrados. Dessa forma, o prédio se verticaliza e nós ganhamos imponência na altura e esbeltez. Assim, como ele já tinha um design arrojado por conta das curvas e elementos inclinados, a aposta foi em um conceito minimalista nessa questão da materialidade, com material branco e mais neutro possível”, conclui.
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