Exposta à natureza
Texto: Vitória Oliveira
Situada em Puerto Escondido, no México, a Casa Cosmos tem apenas 100 m² e está baseada em três elementos principais: núcleo central, estrutura retilínea e mirante, que foram propostos pelo escritório S-AR.
O primeiro elemento é um núcleo central que estrutura toda a morada e que foi construído com lajes de concreto e pilares com acabamento rugoso, que abriga o programa principal: dormitório, salas de estar e jantar, cozinha e lavabo.
No segundo elemento, a estrutura retícula externa com vigas e pilares de concreto que permite estender o comprimento e a largura da casa para o exterior, gerando pátios, terraços, circulação perimetral e vertical, além de uma piscina.
O terceiro elemento é a cobertura, que funciona como mirante para a paisagem distante. Um espelho d'água é um quadro para ler as estrelas, as constelações e o cosmos – que nomeou a morada.
Ligação direta com a paisagem
A rusticidade da madeira e do concreto aparente harmonizou com a paisagem externa Foto: Divulgação S-AR A casa se relaciona fortemente com a paisagem por meio de uma pele treliçada de madeira vertical operável, que também protege a casa quando não está em uso e proporciona níveis variados de privacidade quando habitada.
Devido ao envoltório externo de madeira que abraça e incorpora a vegetação existente, os limites entre arquitetura e paisagem são difusos e transformam-se com as estações e tempos das plantas e os usos dados à estrutura pelos usuários.
O sistema construtivo se baseia em uma estrutura retilínea de pilares e vigas, resultando em uma residência com 100 m², que inclui área coberta pela estrutura externa. Uma das principais linhas de projeto da casa é o uso de uma estrutura em malha que poderia responder à sua localização em uma zona sísmica, conseguindo assim responder aos movimentos sísmicos em qualquer direção.
Além disso a escolha de materiais, que proporcionaria rigidez, durabilidade e baixa manutenção para a casa. O uso da madeira para completar a estrutura foi um recurso escolhido pelo calor que o material agrega ao espaço, bem como pela temporalidade que ela dará à casa, pois se transformará com o tempo. Assim, entende-se a casa em si como um processo de transformação, relacionado ao lugar, vegetação, estações do ano, constelações e à natureza ao redor.
Materiais em evidência
Os arquitetos decidiram explorar dois materiais para construir a casa: concreto que oferece ao projeto resistência estrutural para a zona sísmica, alta durabilidade, economia e baixa manutenção; e a madeira (da árvore macuil local) que oferece a flexibilidade aos fechamentos, a escala humana, e a relação da casa com seu entorno imediato, não só através das vistas, mas também através da temperatura, do som, do vento.
A água captada pela cobertura durante a estação chuvosa é redirecionada por uma única calha para que seja armazenada e usada para contribuir com o crescimento dos jardins plantados no perímetro externo da casa.
Toda a equipe de construção foi formada por trabalhadores locais, que foram treinados através de processos de testes de construção nos diferentes usos do concreto para a estrutura, paredes, pisos e outros acabamentos. Os artesãos locais também foram responsáveis pela carpintaria, desenvolvendo os sistemas de abertura e movimentação das portas e persianas de madeira, contribuindo com seu conhecimento para o desenvolvimento dessas peças. Assim, a casa contribui também para o desenvolvimento do artesanato local na comunidade, absorvendo-o e deixando-o fazer parte da própria arquitetura. O resultado é fruto do trabalho de equipe entre a população local e os arquitetos.