Quem passa pela movimentada avenida Rebouças, no bairro Jardins, em São Paulo, à noite, deve se perguntar o que move as luzes coloridas da fachada do WZ Hotel. Construído na década de 1970, o prédio vivenciou um retrofit total e teve a fachada reformada pelo Estudio Guto Requena. Convidado pela empresa W Zazur para criar uma narrativa visual, Guto Requena inovou ao implementar uma camuflagem paramétrica e fachada interativa no edifício.
“A camuflagem pixelada – que passeia entre as cores quentes, como o vermelho e laranja, e frias, a exemplo do azul, verde e cinza – muda porque reflete a paisagem sonora do entorno do edifício. Para isso utilizamos um processo paramétrico, gerado por computador, que analisou os sons das imediações, criando padrões gráficos coloridos como resposta a esses sons coletados”, explica Guto.
Este é o primeiro edifício privativo do Brasil com arquitetura interativa Guto RequenaEsta pele metálica colorida ganha vida ao anoitecer. Acesa, ela cria uma dinâmica interativa e habita a fachada do hotel com um comportamento próprio, que reage em tempo real aos estímulos do ambiente. Por isso é chamada de ‘Criatura de Luz’, pelo arquiteto. “Este é o primeiro edifício privativo do Brasil com arquitetura interativa. Uma obra de arte pública, um ícone arquitetônico do século 21 na cidade de São Paulo.”
Fazia parte do briefing utilizar chapas metálicas Alubond na renovação da fachada. “Eu teria de fechar o prédio inteiro com esse material, fazer uma fachada bonita. Mas queria mais do que isso. Na reunião seguinte, fiz uma apresentação sobre o que é a arquitetura interativa, quais são os exemplos internacionais, os arquitetos e como isso tem sido feito lá fora”, conta Guto Requena. A primeira reação do cliente foi duvidar sobre o alto valor do investimento em um prédio ‘que ninguém via’. “Eu argumentei: todo mundo vê esse prédio, ele tem todo o potencial para ser o ícone da nova arquitetura de São Paulo. E eles toparam.”
Para dar vida a essa ‘Criatura de Luz’, o arquiteto utilizou o método paramétrico – com o auxílio do software Grasshoper – a partir da análise da paisagem sonora coletada em um ciclo de 24 horas com um gravador polifônico posicionado no terceiro andar do prédio. Após esse ciclo, foi desenhada uma maquete digital do edifício. O arquivo visual das curvas de áudio foi enrolado quatro vezes nessa maquete, simbolizando os quatro momentos do dia – manhã, tarde, noite e madrugada.
O resultado é uma camuflagem pixelada que reflete visualmente a paisagem sonora de uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, a Rebouças Guto RequenaAs chapas metálicas que envolvem a fachada do edifício intercalam chapas coloridas e brancas, que funcionam como rebatedores para refletir as tonalidades das luminárias de LED em RGB. São quase 300 luminárias, com aproximadamente 1,20 metro e um gasto energético menor do que uma lâmpada incandescente.
As diferentes intensidades de som geraram as cores das chapas metálicas. Os picos de som dão origem à cor dourada, menos áudio à tonalidade azul-marinho, pouco barulho, à azul-claro e, o silêncio, à cor cinza. “O resultado é uma camuflagem pixelada que reflete visualmente a paisagem sonora de uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, a Rebouças”, conclui o arquiteto.
Os dados comandam o movimento da criatura, que se agita e se expande respondendo aos estímulos sonoros nessa fachada de 30 andares, com impacto gigantesco para a cidade. Além desses, o outro grupo de sensores instalados no prédio, coleta a qualidade do ar e modifica as cores da fachada. “Como resposta ao som, quando passa um ônibus ou um motoboy, por exemplo, que fazem um barulho muito alto, essa criatura interage: aumenta, diminui, muda de lugar”, conta Guto.
Da mesma forma, dias mais poluídos provocam ‘raiva’ na criatura, que se veste de tonalidades mais quentes, como vermelhos e laranjas. “Em dias de boa qualidade do ar, por sua vez, ela tende a cores frias, como azuis, roxos e verdes”, revela Guto.
O aplicativo para celular permite a interação direta do público com a Criatura de Luz de duas maneiras. Uma através do toque com os dedos. A outra interação acontece através da voz, visualizando as ondas sonoras na fachada. Chamado de WZ Hotel Luz, ele pode ser baixado por Android e iPhone.
Em dias de boa qualidade do ar, por sua vez, ela tende a cores frias, como azuis, roxos e verdes Guto RequenaNa recepção do Hotel encontra-se uma mesa multitoque que exibe os dados coletados em tempo real e permite que os hóspedes interajam diretamente com a ‘Criatura de Luz’. Trata-se de uma grande tela touchscreen que, assim como o aplicativo de celular, permite a qualquer visitante visualizar os dados e interagir. “Assim, somos a primeira geração na história da humanidade a ter isso na mão”, reflete Guto Requena.
Com a tecnologia, o prédio se transforma em uma arquitetura interativa, que responde aos estímulos do seu entorno. Ele incorpora o desafio de convidar as pessoas a voltarem a olhar para arquitetura e refletir sobre seu próprio comportamento. Som e qualidade do ar são dados fundamentais para a paisagem urbana de grandes cidades como São Paulo. Portanto, a instalação de luz provoca e estimula a reflexão.
A fachada interativa do Hotel revela um futuro no qual a arquitetura se torna híbrida, fruto da mistura entre as instâncias analógica e virtual. “A partir de agora fazemos arquitetura não apenas com matéria física, mas também com o digital. Sensores e atuadores se integram ao tijolo, vidro e concreto”, diz.
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