Texto: Naíza Ximenes
Selecionado por meio de um concurso que contou com a participação de seis escritórios de arquitetura, o projeto do escritório Biselli Katchborian Arquitetos Associadospara a Faculdade Rudolf Steiner representa um marco na formação de professores para a rede pedagógica de escolas Waldorf no Brasil.
Com um forte apelo para artes e trabalhos manuais, a universidade (que é dedicada à formação de pedagogos) é fruto de uma proposta de valorização de ambientes que remetem ao conforto do lar e que incentivam a proximidade com a natureza. Em São Paulo, onde fica o projeto, essas premissas tiveram de ser combinadas às restrições urbanísticas e a necessidade de um espaço otimizado, resultando em um edifício de quatro andares que contorna uma mangueira no centro do terreno.
“Nós fomos convidados para um concurso, com outros cinco concorrentes, para apresentar um projeto para a Faculdade Rudolf Steiner. Nós participamos, o nosso projeto venceu e, a partir daí, fomos contratados para desenvolver o projeto e acompanhar a construção”, comenta Mario Biselli, sócio e arquiteto do escritório Biselli Katchborian Arquitetos Associados.
O terreno é um pouco estreito e pequeno, mas nós conseguimos encaixar tudo. Fizemos dois subsolos, para cumprir a legislação e a necessidade de garagem, e conseguimos deixar um belo jardim, já que o terreno tinha uma única árvore importante. Nós fizemos o prédio em volta da mangueira para criar um jardim em torno dela, que é visível de todos os ambientes do prédio. (...) Você sempre está vendo uma parte do jardim ou uma parte da copa da mangueira. O nosso partido foi tirar o máximo do terreno, e, por isso, usamos estrutura metálica para não ter muitos pilares, ou coisas que interrompem os espaços. Você tem vãos livres grandes e tem balanços também muito importantesMario Biselli, sócio e arquiteto do escritório Biselli Katchborian Arquitetos Associados
Segundo ele, o briefing era muito específico, seguindo as exigências da pedagogia Waldorf. O programa de necessidades previa uma quantidade específica de salas, espaço para aulas de música, outro para carpintaria, biblioteca, administração e serviços — ambientes que foram distribuídos em dois pavimentos. Além disso, o projeto precisou atender às demandas da legislação municipal, o que envolveu considerações sobre taxa de ocupação e aproveitamento do loteamento.
Com o programa de necessidades definido, a equipe de arquitetos partiu para o ambiente disponível para o projeto. Ocupando uma área de 919 metros quadrados, o terreno havia sido adquirido há pouco tempo pela instituição, e, apesar das dimensões limitadas, era marcado por uma grande mangueira no centro do loteamento. Ao invés de derrubá-la, o escritório optou por uma construção que a valorizasse, criando toda a estrutura em formato de “U”, ao redor da árvore.
O resultado foi a criação de um jardim central, funcional e agradável, que é visível de diferentes partes do prédio e atende a muitos dos requisitos pedagógicos das escolas Waldorf. Por fim, para garantir a visualização total desse local, a aposta foi em grandes vãos livres, que permitem um ambiente mais aberto e flexível. Essa desobstrução foi possibilitada por uma estrutura metálica em steel frame que dispensa a presença de pilares.
O escritório conta que, durante as pesquisas relacionadas à instituição, observou uma grande ênfase nos trabalhos manuais relacionados à madeira e no uso desse material como uma característica da universidade.
Pensando nisso, além de aplicar a madeira na estrutura, os arquitetos também a utilizaram de forma simbólica. Eles criaram uma estrutura em aço na fachada que ganhou um padrão de perfuração inspirado nas formas microscópicas da madeira, trazendo uma referência sutil e abstrata ao material.
“O Brasil é um país que tem insolação muito forte”, Biselli explica. “Você tem que proteger as fachadas. Primeiro por uma questão de conforto, e, depois para não forçar o ar-condicionado. Então você tem que sombrear o prédio. Tem duas maneiras de fazer isso: ou você faz beirais grandes ou você protege com segundas fachadas e brises, que foi o que fizemos.”
Desde a entrada, o projeto privilegia áreas abertas e a conexão com a natureza. O térreo foi projetado com um conceito de espaço livre, com acesso direto ao jardim central, criando uma sensação de continuidade visual e espacial.
As salas de aula convencionais estão distribuídas em dois andares, coladas às divisas do terreno, aproveitando a legislação local que permite construir até dez metros de altura sem recuos laterais. Esses andares abrigam as salas de aula tradicionais, com janelas voltadas tanto para o jardim interno quanto para o exterior.
O terceiro andar, por sua vez, é um grande terraço que funciona como um espaço coletivo, abrigando um café e a sala do Centro Acadêmico. Esse ambiente é utilizado para encontros e atividades não pedagógicas, proporcionando uma área ampla e de convivência para os estudantes.
O grande destaque do pavimento, no entanto, é o bloco da biblioteca, que foi concebido como um volume estreito, mas com um pé-direito duplo, que proporciona uma sensação de amplitude. A estrutura fica na posição mais elevada do edifício, como um farol, garantindo vistas panorâmicas e privilegiadas do bairro no entorno.
Além das salas convencionais, o edifício inclui uma sala de marcenaria equipada com ferramentas profissionais, uma sala de artes e um estúdio de música para gravações. Esses ambientes foram planejados com layouts e mobiliários específicos, conforme a demanda de cada atividade.
O conforto acústico e térmico foi uma grande preocupação para esses ambientes, resultando em um projeto desenvolvido com forros e painéis acústicos que garantem a qualidade sonora nas salas de aula, além de caixilhos de vidro que se abrem por completo na grande maioria das salas.
Confira outros projetos de Biselli Katchborian Arquitetos Associados:
Escritório
Termos mais buscados