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Conjunto Habitacional Heliópolis - Gleba G

Conjunto Habitacional Heliópolis - Gleba G
Ao tirar partido dos desníveis naturais do terreno, os arquitetos Mario Biselli e Artur Katchborian projetaram um conjunto habitacional popular colorido, privilegiando a qualidade dos espaços cheios e vazios Foto/Imagem:Nelson Kon

Habitação humanizada

Determinamos vários térreos, cada um com três andares acima e cinco abaixo; ou dois para baixo e cinco para cima Artur Katchborian

O projeto do Conjunto Habitacional Heliópolis entrou no escritório Biselli Katchborian Arquitetos Associados como parte do Programa de Reurbanização de Favelas da Prefeitura do Município de São Paulo, por meio da Secretaria de Habitação. Tratava-se da realocação de várias famílias identificadas a partir da realização de um censo que determinou o perfil dos moradores de Heliópolis, a maior comunidade de São Paulo. “Tivemos a rara oportunidade de vivenciar em uma experiência tudo o que nós, arquitetos, pensamos e criticamos no modelo urbanístico da cidade. São duas ocupações periféricas com 420 habitações, grande pátio central e uma quadra enorme”, explica o arquiteto Mario Biselli.

Como a favela é gigantesca, a área foi dividida em glebas, entre vários escritórios de arquitetura, e cada um ficou com um lote. Ao Biselli Katchborian Arquitetos coube a gleba G, localizada na entrada de Heliópolis. "Foi um superdesafio. Nunca projetamos habitação popular, e isso é uma espécie de dívida contraída na faculdade", confessa Artur Katchborian. Longe de ser uma habitação popular comum, o Conjunto Habitacional de Heliópolis levou em consideração elementos integradores ao tecido urbano, privilegiando espaços públicos de interesse do morador, como o grande pátio central, e priorizando a qualidade.

O primeiro passo foi vender a passarela – ou seja, convencer que elas eram essenciais para o projeto. E o segundo foi fazê-las metálicas, algo sem precedentes em habitações populares Artur Katchborian

Construção econômica

Os arquitetos enfrentaram durante a criação do projeto a limitação do orçamento e, consequentemente, a impossibilidade de instalar elevadores. Realizaram várias simulações e não encontraram uma forma de dispor 420 unidades, sem verticalizar – respeitando a legislação, que só permite edifícios sem elevadores de até cinco andares. Até que chegaram a uma solução inédita para a habitação popular.

“O terreno tem um desnível importante que atinge quase dois metros, e existe um artigo da lei que permite ao arquiteto decidir qual será o térreo, desde que este esteja contido na cota média entre a menor e a maior. Então, determinamos vários térreos, cada um com três andares acima e cinco abaixo; ou dois para baixo e cinco para cima”, explica Artur. A nova forma de projetar, tirando partido dos desníveis naturais, resultou na construção de até oito pavimentos sem utilizar elevador, com acessos em diversos níveis e de acordo com a legislação de subida máxima.

Por isso, o projeto prioriza um conjunto de passarelas-pontes que conectam os blocos e permitem o aproveitamento máximo dos coeficientes de construção. “O primeiro passo foi vender a passarela – ou seja, convencer que elas eram essenciais para o projeto. E o segundo foi fazê-las metálicas, algo sem precedentes em habitações populares”, conta Artur.

Passarelas metálicas se sobrepõem ao pátio central conectando os conjuntos Foto: Nelson Kon 

Terreno, implantação e fachadas

A implantação no terreno irregular inspira-se no modelo de quadra europeia ao privilegiar os recuos e o pátio interno. Essas características favorecem a articulação entre a cidade formal e a informal. Diferentes entre si, os prédios nada lembram as habitações populares existentes. “Eles têm vazios preenchidos por diferentes cores que alcançam teto e piso. Outro ponto importante é que esses elementos imprimem identidade ao lugar e a seus habitantes, suprindo o desejo singular de identificação das pessoas”, comenta o arquiteto Artur Katchborian.

Enquanto uma janela abre para a direita, a outra abre para esquerda; elas se movimentam de tal forma que nunca ficam iguais, abertas ou fechadas, criando a cada dia ou noite uma nova fachada Mario Biselli

As tonalidades vivas também demarcam a entrada de cada conjunto. Elas estão presentes nas empenas, percorrem verticalmente a caixa d'água e pontuam os variados térreos, com o objetivo de demarcá-los nos diversos níveis. Segundo Mario, a cor auxilia o morador a identificar rapidamente o bloco em que mora. Os pórticos de acesso e o desenho paisagístico conectam os tecidos urbanos.

Nas fachadas, além das cores, a paginação espanta a monotonia, trazendo movimento. “Para isso, usamos dois artifícios: o primeiro é uma paginação das janelas bastante peculiar. Embora portas-balcão e janelas tenham modelos idênticos, elas diferem no modo de abrir. Enquanto uma abre para a direita, a outra abre para esquerda; elas se movimentam de tal forma que nunca ficam iguais, abertas ou fechadas, criando a cada dia ou noite uma nova fachada”, explica Mario Biselli.

O produto utilizado também supera em qualidade. Trata-se de uma janela com veneziana que corre por fora, com trilhos na alvenaria e o recurso final de cromatização. Ao olhar para o conjunto é possível notar que existem alguns panos com uma tonalidade de branco mais clara e outras mais escuras, aumentando a ideia de movimento.

Sistema construtivo e materiais

Com um projeto que exigia uma construção econômica, os arquitetos conduziram a obra a uma solução de alvenaria de blocos de concreto, um sistema construtivo comum, de execução simples, que privilegia a racionalidade e a repetição. E o melhor: sem interferir no resultado final da arquitetura como um todo. Apenas a construção dos pórticos de acesso foge ao padrão repetitivo da obra, porque demandou uma estrutura mista, em concreto armado. A configuração final das unidades habitacionais leva a uma volumetria singular, com uma série de edifícios cuja independência é acentuada pelo emprego das cores nas fachadas.

Como há um vão muito grande, foi necessário vigamento e estrutura de concreto. Já os elementos metálicos foram aplicados nas pontes, que vencem um vão de 27 metros Mario Biselli

Além da estrutura de alvenaria, o conjunto habitacional de Heliópolis absorve o concreto moldado in loco nos pórticos de entrada. “Como há um vão muito grande, foi necessário vigamento e estrutura de concreto. Já os elementos metálicos foram aplicados nas pontes, que vencem um vão de 27 metros”, declara Mario Biselli.

Programa diferenciado

No interior, o layout dos ambientes é flexível, permitindo várias configurações. “Isso era necessário porque o número de moradores por família varia de 5 a 11 pessoas, de acordo com estudo feito pela equipe social da SEHAB. Ao todo, são 420 apartamentos com dois tipos de plantas: a primeira oferece dois dormitórios, espaço integrado de cozinha, estar e sacada; a segunda é voltada para portadores de necessidades especiais e fica locada no pavimento térreo, com acesso direto pela rua.

Áreas de lazer localizam-se nos pavimentos de entrada. Os espaços cobertos dos pórticos foram transformados em pátios, com equipamentos de ginástica e recreativos e iluminação especial. O projeto de paisagismo valoriza vários tipos de pisos e vegetações.

Artur conta que o programa diferenciado promove a convivência entre os moradores. “Existe um histórico de que esta é uma área que ninguém cuida, mas a realidade mostra-se outra. Hoje, o mais bacana é ver aquele pátio sempre ocupado. É o aposentado jogando seu joguinho, são as crianças brincando”.

Escritório

Biselli Katchborian Arquitetos Associados12 projeto(s)

Local: SP, Brasil
Início do projeto: 2011
Conclusão da obra: 2014
Área do terreno: 12000
Área construída: 31329

Tipo de obra:
Habitação Popular
Tipologia:
Residencial

Materiais predominantes:

Diferenciais técnicos:

Ambientes e Aplicações:

Slideshow Desenhos e plantas

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