“No meio do caminho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do caminho.” Ao contrário de representar um obstáculo, como expressa o poeta Carlos Drummond de Andrade em seu poema No meio do caminho, a nova galeria do Instituto Inhotim, na cidade de Brumadinho, Minas Gerais, “pousa na paisagem como uma pedra” naturalmente, exatamente como imaginou o artista Miguel Rio Branco, antes mesmo da projeção do edifício. Aqui, natureza, arte e arquitetura se relacionam de maneira privilegiada e em harmonia, fruto do rico diálogo entre a equipe do escritório Arquitetos Associados – Alexandre Brasil, André Prado, Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff –, responsável pelo projeto, e dos curadores – Rodrigo Moura, Jochen Volz e Allan Schwartzman –, além do próprio Miguel Rio Branco.
O projeto integra e amplia o conjunto de espaços expositivos do Instituto Inhotim, com a criação de um edifício com amplas possibilidades de exposição em variadas montagens, especialmente pensado para receber a obra de Miguel Rio Branco. “Diferentemente de outras galerias destinadas a um único artista, esse edifício abriga várias exposições ao longo dos anos. Por isso criamos uma sala quadrada com pé-direito de seis metros, escala pré-definida e um segundo espaço mais amplo, capaz de se desmembrar em vários compartimentos, com maior flexibilidade expositiva”, explica a arquiteta Paula Zasnicoff. Esse edifício abriga várias exposições ao longo dos anos. Por isso criamos uma sala quadrada com pé-direito de seis metros, escala pré-definida e um segundo espaço mais amplo, capaz de se desmembrar em vários compartimentos, com maior flexibilidade expositivaPaula Zasnicoff Nesta galeria, a luz e a cor foram usadas intencionalmente para arquitetar um espaço voltado para o belo. A implantação do volume edificado procurou minimizar a percepção de um edifício verticalizado, que seria a resposta imediata à topografia com acentuada declividade inicial – cerca de 20 x 40 m – e um platô de 6 m elevado na parte posterior. As árvores existentes foram preservadas, e entre elas ergue-se a construção principal.
A construção se desmembra em três níveis: a sala inferior semienterrada na topografia, de modo a disfarçar a presença vertical do volume construído, onde funciona uma das salas de exposição; a sala superior, cujo impacto visual é o maior no conjunto, tendo o maior espaço expositivo; e a praça intermediária que se conforma como um vazio, intervalo entre chão e construção, sendo uma continuidade do parque. Ela recepciona os visitantes, oferece lanchonete, banheiros e bancos para descanso e os direciona para os andares expositivos. Paula revela que, nesse nível (a entrada), a pavimentação recebeu a mesma pedra utilizada nos percursos externos de Inhotim. “Para reforçar esta continuidade”, conta. Já os jardins tiveram colaboração do próprio artista, que nutre um grande interesse por paisagismo.
A estrutura do edifício mescla aço e concreto. “Cada um dos materiais cumpre seu papel e é utilizado para um melhor desempenho”, observa a arquiteta. O caráter mineral do bloco principal é evidenciado pela estrutura metálica com vedação em aço Usisac e acabamento patinado natural. A pátina favorece sutis variações de cor e textura das superfícies, acentuadas pela ação do tempo e das intempéries. No partido arquitetônico reduzimos ao mínimo a presença de atributos tradicionais como portas e janelas e tratamos a volumetria com intencional abstraçãoPaula Zasnicoff
“No partido arquitetônico reduzimos ao mínimo a presença de atributos tradicionais como portas, janelas, paredes e telhados. A volumetria foi tratada com intencional abstração, aplicando sobre o volume principal uma sutil deformação por meio das inclinações variadas dos planos de vedação”, expõe Paula.
A palavra Inhotim vem da contração mineira de “senhor Tim”, em referência ao proprietário de uma das várias fazendas compradas por Paz para criar este espaço cultural. Na língua dos escravos, “senhor Tim” transformou-se em “sinhô Tim” e, numa forma mais reduzida ainda, “inho Tim”. Inhotim situa-se no município de Brumadinho, Minas Gerais, e ocupa uma área de 35 hectares de jardins, boa parte criada pelo paisagista Roberto Burle Marx em 1984 e abriga uma coleção botânica de espécies tropicais, bem como um acervo artístico.
Trata-se de um lugar em formação, onde arte e natureza se relacionam de forma especial. O Centro de Arte Contemporânea é uma instituição comprometida com a educação e o desenvolvimento cultural da comunidade.
Além da arquitetura dos museus convencionais e dos parques de escultura, Inhotim oferece aos artistas a oportunidade de sonhar e produzir obras complexas. Deslumbrantes bancos esculpidos em árvores brasileiras – que caíram naturalmente, morreram ou foram descartadas, por não serem adequadas para fazer canoas – do artista Hugo França, espalham-se pela propriedade e convidam a um momento de descanso e introspecção.
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