Volta às raízes
Texto: Tais Mello
A paisagem estonteante de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e o desejo dos moradores de ter uma Tanto a forma quanto o tamanho do teto apresentam um desenho que protege os espaços internos da insolação direta Ivo Mareines casa praiana e voltada ao lazer para aproveitar ao máximo a natureza foram apenas o pontapé inicial desse projeto. O segundo passo que definiu a proposta inovadora partiu dos escritórios Mareines Arquitetura e Patalano Arquitetura, dois estúdios que ousaram ao propor um desenho orgânico e – por que não dizer – poético. A cobertura em formato de uma grande folha oferece sua refrescante sombra a todos os ambientes da casa, até mesmo aos espaços livres existentes entre eles. Inspirada na arquitetura brasileira indígena, de uma oca tradicional Kaiamurá, a Casa Folha foi planejada para amenizar o clima quente e úmido característico da região. “Tanto a forma quanto o tamanho do teto apresentam um desenho que protege os espaços internos da insolação direta”, expõe Ivo Mareines. A construção ecoeficiente utiliza o conceito low-tech. O pé-direito alto, existente na maioria dos ambientes, permite que o vento dominante do sudeste venha do mar em direção à casa e através dela, ventilando e resfriando todas as áreas abertas e fechadas. Ivo explica que outra vantagem é a ausência completa de paredes divisórias no andar térreo. “Esse e outros fatores garantem conforto térmico o ano inteiro, sem a necessidade do uso de ar-condicionado”.
Cobertura e pilares sustentáveis
Para vencer vãos de até 25 metros, a madeira laminada de eucalipto compõe o esqueleto da cobertura. Longe de ser simples, a geometria complexa e refinada do teto originou-se a partir do encaixe harmonioso de inúmeras pequenas peças de madeira laminada de eucalipto, como se fosse um quebra-cabeça. A madeira de eucalipto provêm de reflorestamento, sendo uma matéria-prima renovável. A ‘folha’ que recobre a construção tem seis divisões dispostas em círculo e ligadas pelo centro. Para executar esse design, os arquitetos projetaram uma estrutura com vigas curvas de eucalipto. “Já o suporte estrutural foi dado por grandes pilares de aço corten, responsáveis por emprestar grande flexibilidade ao partido”, revela Rafael Patalano. No centro da edificação, uma das colunas recolhe cerca de 50% da água da chuva do telhado para reaproveitar na rega do jardim.
Inspirada na arquitetura brasileira indígena, de uma oca tradicional Kaiamurá, a Casa Folha ameniza o clima quente e úmido Foto: Leonardo Finotti
Homem e natureza integrados
No térreo, a transparência integra ambientes internos e externos e promove a interação entre o Já o suporte estrutural foi dado por grandes pilares de aço corten, responsáveis por emprestar grande flexibilidade ao partido Rafael Patalano homem e a natureza. O jardim projetado pela paisagista Marita Adania envolve os terraços e invade o térreo. A piscina começa no jardim, atravessa a varanda frontal, denominada pelo escritório como ‘lounge brasileiro’ – uma sala de descanso e relaxamento com cinco redes dispostas em semicírculo –, e transforma-se em um espelho d'água na parte posterior.
Localizados no piso superior, os quartos detêm toda privacidade, quebrada apenas por enormes portas-balcão de vidro curvo, quando abertas. “Elas se abrem para terraços com uma privilegiada vista para o mar”, revela Rafael. O interior dos dormitórios e banheiros exibe acabamento de madeira. Em todo o resto da casa, bambu, cobre, madeira, aço, vidro e pedra revestem as superfícies. Aplicados em seu estado natural, a maioria dos materiais foram adquiridos de fornecedores dentro de um raio de menos de 500 km.