Cinco anos após entregar a obra do Hospital Unimed Litoral, empreendimento de alta complexidade localizado em Balneário Camboriú (SC), o escritório Idein Arquitetura foi novamente chamado, dessa vez para realizar uma ampliação no espaço. O momento era de pandemia, e a necessidade por mais leitos era uma realidade em grande parte dos centros de saúde do país.
A ampliação ocorreu em uma área que era de apoio técnico-logístico. O andar era compatível em relação ao pé-direito e, portanto, suficiente para a instalação da infraestrutura necessária, tanto de climatização, quanto de elétrica e até mesmo de abertura de janelas para entrada de iluminação natural.
De acordo com Patrícia Paiva D´Alessandro, arquiteta responsável pelo projeto, a reforma originou 10 novos leitos de UTI e 13 leitos de internação em uma área de 1.400 m². “O partido deste projeto foi o estudo da neurociência aplicada à arquitetura, colocando o ser humano como foco principal e buscando melhorar o desempenho e o bem-estar dos ambientes”, relata.
Segundo ela, atualmente há vários estudos apoiados na neurociência que mostram que os ambientes podem impactar na vida, na saúde e no bem-estar de todos aqueles que utilizam o hospital, sejam eles acompanhantes, pacientes ou profissionais da saúde. “O maior diferencial do projeto foi sair do padrão, pensar diferente e encantar as pessoas. Trazer uma arquitetura mais cognitiva, onde eu significo o espaço, e uma arquitetura sensorial, onde exploro os sentidos e provoco sensações”, comenta.
A arquiteta Patrícia Paiva D´Alessandro conta que as principais estratégias ambientais utilizadas no projeto de ampliação foram a iluminação integrativa, o design biofílico, o Wayfinding, além da utilização de formas e cores. A seguir, entenda melhor cada uma delas:
Iluminação integrativa: é o equilíbrio entre a luz natural e a luz artificial. Essa estratégia projetual respeita o ciclo circadiano das pessoas que utilizam o hospital. “Durante o dia a iluminação acende com uma luz mais branca azulada e conforme o dia vai passando ela vai amarelando gradativamente, simulando a luz do anoitecer. Isso evita prejuízos ao nosso ciclo circadiano quando ficamos muito tempo dentro de um ambiente construído”, detalha. Um outro recurso foi utilizar ao máximo as aberturas na fachada para criar o contato com o ambiente externo. “A iluminação natural dentro de hospitais é muito importante para as pessoas se orientarem em relação ao dia e a noite, influenciando na produção de hormônios, como cortisol durante o dia e melatonina durante a noite”, explica.
Design biofílico: essa estratégia conecta a natureza com o ambiente construído. “Como essas áreas hospitalares possuem um rigor de limpeza e desinfecção altíssimo, que não permite a utilização de plantas vivas dentro dos espaços, usamos materiais que simulam as cores da natureza”, conta Patrícia. A marcenaria, por exemplo, foi feita com tons amadeirados; no piso, foram usados revestimentos vinílicos em tons de areia e azul, remetendo à praia, já que o hospital se encontra em uma cidade litorânea; e, por fim, no teto foram empregados painéis tipo backlights com imagens de céu e copas de árvores, que melhoram a experiência do usuário.
Wayfinding: é outra estratégia baseada na neurociência para auxiliar na orientação espacial das pessoas. Através de comunicação visual, sinalização do piso, iluminação e cores, é possível fazer com a que as pessoas consigam navegar pelos espaços de forma mais fácil e intuitiva e chegar ao seu destino final. A solução foi aplicada através de desenhos no piso vinílico.
Formas e cores: foi realizado um estudo das cores para criar um ambiente mais agradável e menos com cara de hospital, além de formas mais arredondadas ou chanfradas que facilitam a circulação das pessoas ou com paciente em maca.
Conforto acústico: devido ao fato de a unidade de terapia intensiva ter muitos ruídos de equipamentos e pessoas circulando, a primeira estratégia foi individualizar os boxes de UTI. “Trabalhamos com divisórias acústicas para garantir o melhor conforto para o paciente e o acompanhante”, menciona a arquiteta.
O Idein Arquitetura atua há 15 anos na área de saúde, desenvolvimento imobiliário e comercial. Ao longo de sua história, já projetou cerca de 20 hospitais. Além de contar com tamanho know-how, neste projeto de ampliação a equipe trabalhou com escuta ativa de todos os profissionais envolvidos.
“Devido à complexidade dessas áreas de UTI e internação, nós chamamos todas as equipes envolvidas, desde equipe médica, equipe de enfermagem, de apoio técnico-logístico, nutrição, higiene, resíduos, manutenção até TI engenharia clínica. Elas trouxeram todas as expectativas para essa nova área baseada nas experiências passadas que tiveram. E com isso nós arquitetos conseguimos produzir, apoiados nessa escuta ativa dos profissionais, um projeto mais assertivo. Isso contribuiu para o sucesso do trabalho”, conclui Patrícia.
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