À distância, o complexo Mineirão deixa ver a proximidade da lagoa da Pampulha e da mata da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte (MG). A dimensão da esplanada no entorno é de 80 mil m², com capacidade para 65 mil pessoas e função de arena multiuso, pois poderá ser palco de eventos de diversas modalidades esportivas, culturais, religiosas e de lazer.
Diante da magnitude do projeto executivo encabeçado pelo escritório BCMF Arquitetos – dos sócios Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi – contratado pelo Consórcio Minas Arena, design, segurança e conforto são prioridades para a Copa do Mundo de 2014.
Isso é necessário para que o Mineirão possa se transformar em uma moderna arena de nível internacional integrada ao conjunto arquitetônico e paisagístico da Lagoa da Pampulha Marcelo Fontes Na inovadora parceria público-privada, o escritório ficou responsável pela modernização de todo o complexo, tanto das áreas internas (estádio) quanto externas (esplanada). As propostas e o novo design da BCMF em relação ao projeto básico (assinado pela GPA&A e pela alemã GMP) potencializaram a exploração comercial do complexo, integrando-o ao contexto imediato, além de atender a novos requerimentos – Caderno 2011 da FIFA, Lei Geral da Copa e nova IT do Corpo de Bombeiros. O Novo Mineirão retém todas as recomendações que constam no Stadium Requirements da FIFA. Ele estará equipado com sala de comando e controle, circuito interno de segurança, sistema de prevenção de incêndio, corpo de bombeiros e demais órgãos.
A nova esplanada garante que a entrada e a saída de usuários no estádio sejam realizadas sem aglomeração e com tranquilidade, através das avenidas Antônio Carlos e Carlos Luz, ambas largas e com pistas separadas por canteiro central. “Assim, as torcidas rivais não se encontram e adentram a construção por meio de 106 catracas de rápido acesso”, ressalta Bruno.
A cobertura duplicada agora alcança todos os torcedores, oferece mais conforto e possui uma membrana autolimpante. “Basta água da chuva para levar a sujeira para o sistema de drenagem do estádio”, revela Marcelo Fontes. Ela tem revestimento de membrana de dióxido de titânio (TiO²) com politetrafluoretileno (PTFE) e está apoiada sobre treliças planas compostas por tubos de aço. A solução proporcionará um alívio de tensões na cobertura de concreto existente – 13 mil m², ou 500 peças, pesando mil toneladas –, por meio de um trabalho de proteção e macaqueamento.
Sob essa estrutura será instalada a nova cobertura metálica que também resolverá a questão da penumbra para a transmissão televisiva, sem prejudicar a insolação do gramado. A membrana escolhida tem a vantagem de não criar zonas de sombra. Translúcida, ela irradia luz de maneira uniforme, sem a sombra da marca de treliças. “Caso tivéssemos optado pelo policarbonato, como ele é mais transparente, as sombras ficariam muito fortes. E o policarbonato mostrou-se duas vezes mais pesado do que a membrana, que permitiu uma redução do peso em 50%, evitando sobrecarregar a estrutura existente", explica Marcelo.
Outra vantagem é a capacidade geradora de energia elétrica através da captação de energia solar, por meio de células fotovoltaicas instaladas na antiga e nova cobertura. As placas têm potência de 1,6 megawatt, o suficiente para atender a 1.200 residências de médio porte. Resumindo: as coberturas trabalharão interligadas em um sistema misto, com maior facilidade e agilidade de montagem e logística, garantindo o cumprimento do cronograma da obra.
A esplanada é redesenhada completamente, e a nova geometria se desdobra em diversos níveis, Procuramos intervir de forma respeitosa e radical, exacerbando os princípios de adaptação à topografia da solução da década de 60Bruno Campos refletindo a assimetria do terreno e da topografia. “O objetivo é minimizar o impacto da inserção da imensa área construída ao redor do estádio, facilitar a acessibilidade por todos os lados e valorizar a presença do Mineirão, um bem tombado pelo Patrimônio Histórico, na paisagem da Pampulha”, ressalta Bruno.
Para o público, o novo design com platôs escalonados em diversos níveis, conectados por uma série de rampas, planos inclinados e escadas em proporção de arquibancada no entorno, além do campo rebaixado em 3,4 metros garantem melhores condições de visibilidade. Além de ser um formidável espaço semipúblico, há uma imensa praça integrada visualmente à orla da Lagoa da Pampulha, oferecendo também serviços modernos de lazer, comércio, cultura e entretenimento. Trata-se de uma área de 80 mil m² reservada ao público pedestre, um parque suspenso livre da interferência dos fluxos operacionais e de acessos de veículos.
Uma das particularidades desse tipo de projeto é que ele atende às demandas de grandes eventos internacionais temporários, como a Copa 2014 e, ao mesmo tempo, permanece como um legado viável, com enorme potencial para gerar atividades todos os dias da semana, além de renda e benefícios para a cidade, com lojas e estacionamentos para atender aos jogos e aos espaços comerciais.
Projetado na década de 1940 e construído na década de 1960, pouco restou da obra original. Apenas a ‘casca’, ou seja, a estrutura da fachada e a cobertura existente, ambas tombadas, além do anel superior, permaneceram praticamente inalterados. Houve a total remodelação do ‘miolo’ interno e da área externa ao redor do estádio. “Isso é necessário para que o Mineirão possa se transformar em uma moderna arena de nível internacional integrada ao conjunto arquitetônico e paisagístico da Lagoa da Pampulha”, ressalta Marcelo Fontes.
Desde o projeto original, as obras de Oscar Niemeyer e a Lagoa da Pampulha nas imediações parecem ter influenciado as soluções para a implantação do estádio. Os arquitetos Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto procuraram respeitar a conformação natural do terreno do estádio através de uma engenhosa implantação desnivelada, seguindo as curvas de nível de uma topografia acidentada, típica de Belo Horizonte.
Bruno Campos chama a atenção para a delicada relação urbanística do Novo Mineirão com o Complexo Turístico da Lagoa da Pampulha e sua vizinhança imediata, levando em conta as demandas durante o evento e também seu impacto como um legado autossustentável para a cidade. “Nesse contexto, procuramos intervir de forma respeitosa e radical, exacerbando os princípios de adaptação à topografia da solução da década de 60”, acrescenta.
No novo projeto, os quase 200 mil m² de área no entorno da arena preservam a integração paisagística existente e reforçam a personalidade do Mineirão por meio de uma nova plataforma ‘topográfica’ esculpida ao redor.
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