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Groenlândia

Groenlândia
A cobertura de concreto em balanço de quase oito metros parece suspensa no ar. Abaixo, o fechamento de vidro livre de caixilhos, entre o primeiro e o último pavimento, expõe um instigante diálogo arquitetônico Foto/Imagem:Pedro Kok

Cobertura pousada


Parece extraordinário, afinal é um balanço de quase oito metros sobre toda a laje. Era um pouco desse espetáculo, da magia do concreto, que queríamos usar Grégory Bousquet

Longe de padrões que engessam a obra, a casa Groenlândia, localizada na capital paulista, nasce de um processo artesanal, em que tudo foi desenhado e pensado. “É uma construção muito especial. É um projeto de atelier”, descreve Olivier Raffaelli, um dos arquitetos e autores em parceria com Grégory Bousquet, Guillaume Sibaud e Carolina Bueno, do Triptyque Arquitetura.

Da antiga residência foram mantidos apenas a parte do envelope no perímetro exato, enquanto todo o sistema de distribuição de cobertura e de laje encontram-se totalmente reformulados. Assim, a cobertura plana de concreto tem uma varanda com um deque de madeira e apoia-se em um pilar centralizado. “Como não há outro apoio, a solução lembra um guarda-chuva”, explica Guillaume Sibaud.

O uso do concreto permite abrir vãos nas esquinas, confundindo a fachada principal com as secundárias. É que uma fachada sempre leva à outra fachada, uma janela sempre inicia outra janela, conduzindo à ideia de que o cubo está em movimento. No espaço vazado, a luz entra em todos os lugares, e a estrutura em desequilíbrio torna-se difícil de entender.

Para fechar a estrutura, o vidro entra em cena. Livre de caixilhos, fragiliza propositalmente esse diálogo. O resultado, segundo Grégory Bousquet, é surpreendente. “A sensação é que a laje de concreto voa. Desde o início da obra tínhamos receio de não conseguir imprimir esse movimento à construção. Havia o reflexo de vidro, e os recuos poderiam ser insuficientes, mas, no final, a surpresa de ver que funciona perfeitamente foi extraordinária”.

O uso do concreto permite abrir vãos nas esquinas, confundindo a fachada principal com as secundárias Foto: Pedro Kok

De residencial a comercial

A partir do Plano Diretor de 2002, da cidade de São Paulo, o eixo da Rua Groelândia, no bairro Jardim Europa, foi definido como comercial. “Tínhamos em mãos uma reforma com mudança de uso, mas conservando as características”, conta Guillaume Sibaud.

Tratava-se de um projeto tradicional de grande reforma, pois era necessário criar outro prédio a partir da base do primeiro. Um exercício complexo que exigiu repensar completamente o entorno da casa. Segundo Grégory Bousquet, os arredores eram atraentes, havia árvores e uma ótima relação com a rua. “A ideia primária foi reintegrar esse espaço semiprivado, recuar um pouquinho para o espaço público e deixar a cidade reentrar dentro dessa parcela, sem fechar completamente”.


O guarda-sol de concreto proporciona um brise-soleil, pois não deixa o sol entrar diretamente, mas como as janelas são gigantes, há sempre boa iluminação Grégory Bousquet

Cobertura com design no ar

A cobertura mostra-se como uma foice de madeira no meio da copa das árvores do bairro. Sem muretas, as linhas do deque apontam levemente para o infinito. “Tipo suspensa no ar”, Olivier Raffaelli arrisca uma descrição. A faixa ao redor da casa, sem pilar ou qualquer outra sustentação no perímetro, transmite o questionamento de como a cobertura se mantém no alto, sem cair. Grégory Bousquet reflete: “Parece extraordinário, afinal é um balanço de quase oito metros sobre toda a laje. Era um pouco desse espetáculo, da magia do concreto, que queríamos usar.”

Mais que apenas uma saída arquitetônica de design instigador, a cobertura representa uma agradável maneira de apreciar e prestigiar a cidade de São Paulo. A visão a partir do deque é a de um jardim gigante, expandido por cinco ou seis quilômetros ao redor da casa. “Uma vista inacreditável. Afinal, você está em uma região central, mas, ao mesmo tempo, está no meio das árvores”, expõe Grégory Bousquet.

Para um empreendimento comercial, o deque de madeira representa um local interessante para se refazer do trabalho e do estresse da metrópole. As pessoas podem usá-lo para almoçar, tomar sol, ou até para promover uma descontraída recepção.

Eficiência térmica

Através da criação do pilar e da grande cobertura, os arquitetos do estúdio Triptyque aplicam um pouco dos preceitos modernistas tropicais na obra. A cobertura, antes de ser uma simples laje, cuja função é cobrir e proteger a casa da radiação solar, funciona como se fosse um guarda-sol, sem bloquear, porém, a luz natural. “O guarda-sol de concreto proporciona um brise-soleil, pois não deixa o sol entrar diretamente, mas como as janelas são gigantes, há sempre boa iluminação”, Grégory Bousquet.

O uso de vidros claros nos fechamentos também favorece a entrada da iluminação natural no interior dos ambientes. “Evitamos o tipo espelhado, que protege do sol, mas torna os espaços internos sombrios. Exemplo disso são os prédios de vidro espelhado erguidos na cidade. O material oferece proteção, mas é tão reflexivo que o usuário não consegue trabalhar durante o dia, sendo obrigado a usar a luz artificial no período diurno”.

Ao optar pelo concreto, eles tiraram partido da inércia térmica do material, uma vez que as paredes de concreto proporcionam grande conforto térmico, ainda mais quando associadas aos espelhos d'água.

Groenlândia - Cobertura pousada
O guarda-sol de concreto proporciona um brise-soleil, pois não deixa o sol entrar diretamente, mas como as janelas são gigantes, há sempre boa iluminação Foto: Pedro Kok

Materiais antagônicos e sustentabilidade


Usamos na fachada um mármore brasileiro, mais econômico, considerado interessante no mercado justamente por ter 'defeitos'. Ele não é muito branco, é um pouco verde e apresenta belos veios Guillaume Sibaud

Basicamente, o projeto Groenlândia utiliza concreto armado aparente – também presente na estrutura central –, mármore e vidro. Os dois primeiros oferecem o contraste entre a alvenaria bruta mais tradicional e artesanal, e a nobreza do mármore, de toque liso e acabamento industrial. “Usamos na fachada um mármore brasileiro, mais econômico, considerado interessante no mercado justamente por ter 'defeitos'. Ele não é muito branco, é um pouco verde e apresenta belos veios”, descreve Guillaume Sibaud. O resultado é um diálogo forte e antagônico entre os dois materiais.

Esteticamente, a junção dessas três matérias-primas estabelece não somente a sensação de movimento, mas uma certa tensão. Afinal, olhar para a casa do lado externo significa enxergar as paredes de mármore na base, um vazio promovido pelos vidros transparentes na faixa intermediária e, lá em cima, o guarda-sol de concreto. “A tensão está no fato de a parede de mármore e cobertura de concreto parecerem que vão se tocar, mas não se tocarem”.

Surpreendentemente, há um quarto e inusitado material a trabalho das fachadas: a água. “Todas as projeções de aberturas são refletidas no chão, em forma de espelho d'água. Isso proporciona certa sustentabilidade, porque a água refresca a casa, aumenta a luminosidade no interior e cria um efeito estético muito bonito, gerando bem-estar”, Grégory Bousquet.

Escritório

Triptyque Architecture21 projeto(s)

Local: SP, Brasil
Início do projeto: 2010
Conclusão da obra: 2014
Área do terreno: 993
Área construída: 1.239

Tipo de obra:
Showroom
Tipologia:
Comercial

Materiais predominantes:

Diferenciais técnicos:

Ambientes e Aplicações:

Slideshow

Ficha Técnica

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